A primeira audiência sobre o acidente que tirou a vida de Drielle Leite Lopes e seus três filhos, na BR-060, entre Sidrolândia e Campo Grande, foi realizada na tarde de segunda-feira (30).
O mecânico David Lopes Queiroz, preso desde abril, acusado do acidente, chegou ao Fórum Heitor Medeiros de muletas. Na semana passada, ele teve um pedido de liberdade negado pela Justiça, que decidiu aguardar a realização da audiência.
Segundo o termo de audiência, David afirmou que é inocente e vai provar, alegando que a acusação é “improcedente”, ou seja, que não tem fundamentos ou provas suficientes. Como ele instituiu advogado particular recentemente, afirmou que dará mais argumentos e provas posteriormente. O Ministério Público, por sua vez, requereu prazo de três dias para juntar o pedido para que o réu ajude financeiramente nas despesas do tratamento do menino de 12 anos.
Informações passadas pelo irmão do mecânico para os policiais que atenderam a ocorrência são de que, no dia do acidente, o autor fez uso de cocaína. Quando os policiais chegaram à Santa Casa, onde o mecânico estava internado sob escolta, ele apresentava sinais de embriaguez, com fala arrastada e proferindo palavras de baixo calão.
Oldiney Centurion Saraiva, marido de Drielle, começou seu depoimento relembrando que desmaiou após o acidente. Naquela noite de 6 de abril, faleceram Drielle; Helena Leite Saraiva, de 10 anos; João Lúcio Leite Saraiva, de 2; e o pequeno José Augusto Saraiva, de apenas 3 meses.
O pai explicou que se recorda apenas do dia em que acordou na casa de um familiar e seu médico acredita que tenha ocorrido um bloqueio emocional. “Nós estávamos vindo embora, eu estava vindo com a minha família. Chegando em uma curva, eu acredito que era um caminhão que estava vindo na curva e o rapaz estava ultrapassando, e eu não vi nada. Eu só me lembro três dias depois, na casa do meu primo, acordando; eu não lembro do velório, nem do enterro. O médico psiquiatra acha que pode ter ocorrido um bloqueio emocional”, falou.
Casados há 15 anos, Oldiney contou que conheceu Drielle em Sidrolândia. Naquele 6 de abril, a família havia viajado para Sidrolândia para visitar a avó de Drielle e contar aos parentes que conseguiram um financiamento para comprar uma casa. “Eu estava na melhor época da minha vida, tinha acabado de conseguir um financiamento para comprar uma casa, nós tínhamos ido lá contar para minha sogra que assinamos um contrato de compra e venda da casa… Tudo isso foi tirado da gente, por um ato maldoso, doloso. Eu estou perdido, eu não sei o que fazer”, contou.
Ao responder aos questionamentos do MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul) na audiência, Oldiney disse que encontra forças no filho de 12 anos, que sobreviveu ao acidente naquele 6 de abril. “Eu conversei com o meu filho, aos poucos, é ele que está me dando mais suporte; ele para de chorar, me abraça e fala que ‘é nós dois’. Ele falou que ele e a irmã estavam cada um de um lado e, quando o carro bateu, ele capotou”, revelou o pai.
Ele revelou também que, após o acidente na BR-060, o velocímetro de seu carro parou a 90km/h. “O velocímetro parou a 90km/h, eu nunca passei de 100km/h, porque eu andava com os meus filhos”, falou.
Ainda na sala de audiências, o pai revelou que a pior parte é ouvir o filho chamando pela mãe e seus irmãos. “A pior parte é quando ele pede pela mãe, chama pelos irmãos… eu perdi uma companheira”, desabafou.
Emocionado, o pai do pequeno de 12 anos explicou a dificuldade que enfrenta com o filho, que teve o fêmur quebrado, braço e dentes fraturados e não consegue se locomover. Atualmente, o menino é acompanhado por uma enfermeira da Santa Casa e terapeuta.
Oldiney ainda comentou sobre os gastos que tem enfrentado nos últimos meses após o acidente. Segundo ele, são gastos que giram em torno de R$ 10 mil, com medicamentos e tratamento, como terapia, enfermeira, maca e cadeira de rodas. “Ele não sai, não consegue andar, não pode pisar o pé no chão. Eu tenho que chamar os amiguinhos para ir lá. Minha casa era cheia por causa das crianças, agora é só eu e ele”, relatou.
Sobre o processo judicial, Oldiney diz que “o mínimo que se espera é que ele seja condenado por homicídio doloso”, sustenta, ao enfatizar que não pode provar, mas que o próprio irmão do mecânico, afirmou em depoimento que ele estava sob efeito de álcool e cocaína.
O acidente – O Chevrolet Corsa, conduzido por David, seguia sentido Campo Grande a Sidrolândia quando tentou ultrapassar uma carreta, no sentido contrário estava uma Volkswagen Saveiro Cross, que seguia a família.
Ao tentar voltar para a sua faixa, o Corsa bateu na carreta, perdendo o controle e colidindo com a Saveiro. Ainda conforme informações, o Corsa que tentou a ultrapassagem estaria em alta velocidade.
“Em relação ao acidente, eu quero a justiça. Não vai trazer de volta, mas que não aconteça com outros. Porque não foi um acidente, foi uma tragédia, provocada por um ser embriagado, que não pensa na consequência do que vai dar. Destruiu, destruiu muitas famílias”, disse Aucelia Gomes, sogra de Drielle.
Após a apresentação formal do pedido do MP e oitiva especial do menino de 12 anos, além de eleição de testemunhas da defesa, o juiz vai designar audiência de instrução e julgamento.